Paris vem estampando manchetes há anos com suas diretrizes agressivas para melhorias urbanas anti-carro e pró-pedestre. Diante do aumento da poluição do ar e em uma tentativa de recuperar as ruas para meios alternativos de deslocamento, conforme descrito em seu plano para uma cidade de 15 minutos, a capital francesa é vista como líder em estratégias urbanas do futuro. Recentemente, o departamento de transportes fixou um prazo para as elevadas metas de eliminar o tráfego de suas ruas. Dentro de apenas dois anos, a tempo de a capital francesa sediar os Jogos Olímpicos, Paris planeja proibir o tráfego não essencial no centro da cidade, eliminando efetivamente cerca de 50% da mobilidade veicular. O que diz o plano? E como outras cidades poderiam utilizar esta estratégia para solucionar suas próprias questões urbanas?
A logística deste plano é bastante complicada. Embora o objetivo seja tornar a cidade menos congestionada e mais limpa, alguns motoristas ainda poderão circular na zona, que abrange quase 14 km² e ambos os lados do Sena. Efetivamente, o plano proíbe os motoristas que estão apenas de passagem e permite a entrada de carros particulares que tem o local como destino, assim como veículos de transporte público. Os motoristas pegos utilizando a área apenas de passagem, enfrentarão uma multa da polícia. Estima-se que a estratégia eliminará cerca de 100.000 carros diariamente.
Embora inicialmente ele fosse implementado este ano, o plano foi adiado para dar tempo para discussões e contribuição do público. Em estudos de tráfego realizados por autoridades parisienses, a zona central é responsável por congestionamentos e emissões significativas de tráfego — quase metade do total da cidade. O redirecionamento dessas rotas de trânsito tornará essas ruas muito mais amigáveis aos pedestres e também incentivará as pessoas a utilizarem o transporte público. Em 2017, Paris proibiu a circulação de carros em um trecho de 3 km ao longo do Sena para criar áreas exclusivas aos pedestres. O resultado imediato foi que outras ruas ficaram mais movimentadas, e os engarrafamentos aumentaram.
Alguns temem que menos carros signifique menos negócios para lojas locais e donos de restaurantes, mas a esperança é que, como o trânsito desencoraja tantas pessoas, menos tráfego realmente traga as pessoas de volta à área e recrie esta parte de Paris para ser mais um destino do que uma rua. Esta estratégia também está sendo replicada em outras cidades ao redor do mundo, em diferentes escalas, portanto, há muitas lições a serem aprendidas. Quase imediatamente após Paris anunciar o atraso no plano, Bruxelas anunciou um movimento semelhante de proibição de carros no centro histórico da cidade. A cidade já testou algumas estratégias na região, com novas calçadas, bancos de café e floreiras no alinhamento das ruas, mas irá dar um passo adiante para eliminar completamente o tráfego.
Madri também anunciou uma medida semelhante, proibindo carros particulares com placa da capital espanhola em um esforço para redesenhar algumas ruas em áreas somente para pedestres. Somente meios de transporte público, bicicletas e táxis podem entrar no centro da cidade, como um meio de criar um futuro mais sustentável. Embora a medida tenha sido derrubada na suprema corte devido a erros processuais, ainda há esperança da estratégia ser revisada e implementada no futuro. Em uma escala muito menor, a icônica Times Square em Nova York cedeu várias ruas importantes para configurar uma praça de pedestres, que abriga melhor os milhões de turistas que visitam o local todos os anos. O sucesso do projeto influenciou os líderes da cidade a desenvolverem um conjunto de ferramentas com estratégias para fechar outras ruas, especialmente porções da Broadway, e tornar a cidade de Nova York mais acessível a pé.
Levará vários anos até que possamos determinar se Paris e outras cidades que planejam seguir o exemplo, terão sucesso no fechamento de ruas para a circulação de veículos. Em geral, é um grande passo para melhorar a vida nas grandes cidades, mas será necessário um grande trabalho em estratégias sustentáveis e acesso a outros meios de transporte coletivo para complementar a eliminação dos carros.